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Remedeios é fácil de entender. Está escrito a 2 cores, 2 vozes. Quando uma voz inicia, cabe à outra terminar. O compromisso é só um: manter as versões iniciais (originais) intactas. Fora isso, as vozes (as 2 e todas) que se entendam.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

(...) ginástica de palavras 1.1 - transparente

decompondo trans.par.ente:

trans - pref.
de origem latina que significa além de, através, para trás, em troca de ou ao revés

par - s.m.,
conjunto de duas peças semelhantes, que geralmente não se usam uma sem a outra;

ente -
s. m.,
aquilo que existe ou supomos existir; ser, pessoa, criatura, substância, coisa.

através da coisa (se for amor) ou das coisas ( se forem outras necessidades) que são semelhantes e empáticas à nossa pessoa e à nossa substância é que pensamos e supomos existir para o outro ser, validando-nos como pessoas iguais em sentimento, quando, ao revés e geralmente, aquilo que somos para nós e aquilo que somos para a outra pessoa, não podem limitar a nossa vida, porque nisto de viver diariamente, há tal independência necessária dos outros, que a nossa felicidade está em risco se considerarmos que essa e o sentimento pelos outros não se usam um sem o outro. Porque seria condenar-nos à nudez nossa, condenar-nos à nossa transparência aos outros e já nos bastam os espelhos que nos perseguem, quando nos apanham, infortunamente, desmaquilhadas.

decompondo: alem.

para ver decomposições anteriores:
ginástica de palavras 1.0 - remedeios/entregar-se

sábado, 5 de janeiro de 2008

Viagens #1

Batiam as duas horas da madrugada. A caminho de casa, enquanto conduzia, encontrou entretenimento. Com os máximos ligados, a paisagem que olhava em frente, era o cenário. No rádio ouvia-se música clássica. Sons de violino, piano e flauta. As mãos estavam no volante. A esquerda colocada no cimo do volante era a protagonista do teatro, chamemos-lhe assim.
A outra servia para virar e conduzir o carro, portanto levava-a a casa.
Centrando a nossa história na mão esquerda e na paisagem que se iluminava pelos máximos, tudo o resto era escuro, ela esticou o dedo indicador e o dedo médio. Sintonizou-os na música que se ouvia e, ao som, ao ritmo, à sinfonia da melodia eles viajaram.
Faziam-se agora duas viagem e cada uma das mãos, respectivas condutoras.

Uma, a direita, segura e precisa nos gestos. Concisa, decidida e objectiva. Tolerante com a falta da congénere, procurava o final da viagem. O porto seguro da chegada a casa. Permitia-se pequenas oscilações, pequenas pisadelas no risco, mas rapidamente recuperava a posição e o traço do caminho pelo qual se guiava.
A esquerda, inconsciente, alheou-se do percurso familiar e procurou a oscilação e a imprevisibilidade da banda sonora do momento. Assim era em todos os momentos. Absorvidos, assimilados, sentidos no seu todo. Únicos e indesperdiçáveis. Até a desprimor da integridade.
Fez-se a viagem, as viagens, a duas mãos. Direita e esquerda. Razão e coração.